Foto: Favela da Rocinha - RJ. Fonte |
por Moema Guimarães Morgado
O
crescimento da população mundial, de forma desordenada e desenfreada, trouxe
como consequência uma concentração exacerbada das pessoas nas cidades, gerando
perda da qualidade de vida e o declínio da saúde ambiental nas grandes
metrópoles.
Somos
aproximadamente 7 bilhões de pessoas no planeta, e estima-se que, em 2050, a
população seja de 9 bilhões de pessoas, sendo que 65% estarão vivendo nas
cidades [1]. Atualmente, 32% da população urbana (924 milhões de pessoas) vivem
em favelas e os dados apontam que em 2020 a população de moradores em favelas
seja de 1,4 bilhão de pessoas [2]. Esses indicadores chegam a ser assustadores
pois representam o aumento da desigualdade, da pobreza e da violência, que, junto com a
degradação dos recursos naturais apontam para um quadro triste que clama por
novas perspectivas e mudanças de paradigmas no que tange ao planejamento
urbano.
Foto: Favela de Paraisópolis - SP. Fonte |
Um
dos maiores problemas das cidades é a violência [3]. Hoje se sabe que a
criminalidade não pode ser combatida com aumento de balas e polícia, tampouco
com a diminuição da densidade populacional. É preciso repensar o planejamento
urbano e os princípios de reurbanização. Se trouxermos para a atualidade o
pensamento de Jane Jacobs concordaremos que as ruas e calçadas de uma cidade
são seus órgãos mais vitais. Assim como as ruas de uma cidade têm finalidades
além do tráfego de veículos, as calçadas têm outros papéis além de acolher
pedestres. Uma rua movimentada consegue garantir a segurança enquanto uma rua
deserta é uma oportunidade à violência. Se uma rua∕ avenida∕ calçada possui em
seu entorno edifícios com uma boa diversidade de usos, a calçada por si só funcionará
como uma barreira ao crime. Havendo movimento de pessoas diversas, a todo
momento do dia e da noite, o “sistema
de vigilância cidadã” combate a criminalidade e a violência na cidade [4].
Foto: Favela Manguinhos - RJ - © Marcelo Sayão. Fonte |
A
cidade de Medellín, na Colômbia, tornou-se um exemplo mundial ao criar uma nova
trama urbana tendo a cultura como eixo de sua ação. Durante anos, Medellín
manteve altos índices de violência e desigualdade, sendo considerada a cidade
mais violenta do mundo em 1991. Em 2010, a cidade havia diminuído
consideravelmente suas taxas de violência e de desigualdade, por meio de estratégia
de investimentos para os bairros marginalizados, a qual envolveu um plano para
integrar as áreas informais da cidade no tecido urbano. Um dos aspectos que cabe ressaltar nesse plano, chamado de urbanismo
social, foi a criação de Parques Biblioteca, que nada mais são que grandes
centros culturais construídos a partir de projetos arquitetônicos impactantes, os
quais integram num mesmo espaço público a educação, a recreação, a cultura e a
arte. [5]
Outro grande problema que as cidades brasileiras
enfrentam são as enchentes urbanas. As inundações que decorrem do
processo de urbanização têm sua origem na ocupação de forma desordenada e
impermeabilização do solo, que causa a diminuição da infiltração da água da
chuva, acarretando o aumento no volume e velocidade do escoamento superficial (run
off). A água da chuva, ao escoar, busca saídas pelas vias da cidade, que
muitas vezes são insuficientes para abarcar a quantidade de água, quando não
estão entupidas por lixo urbano e detritos. O resultado esperado é o que vemos
ano após ano em cidades relativamente modernas, como São Paulo e Rio de Janeiro.
As enchentes e inundações fazem parte da realidade de boa parte das cidades
brasileiras, revelando também aspectos precários de saneamento e gestão dos
resíduos sólidos. Tais eventos representam grandes desafios para uma boa
governança, pois exigem um planejamento que concilie desenvolvimento com gestão
ambiental do meio urbano. (Entre Rios)
Foto: Enchente em São Paulo. Ale Vianna/News Free/AE. Fonte |
Por
fim, não podemos deixar de mencionar os problemas relacionados à questão da
mobilidade urbana, a qual clama por soluções urgentes. Tornou-se insustentável,
principalmente nas grandes metrópoles, o padrão de mobilidade centrado no
transporte motorizado individual. Certas cidades já não comportam a quantidade
de automóveis nas vias e nos estacionamentos públicos. Na medida em que o
transporte público coletivo não atende a necessidade de deslocamento da
população, o uso do transporte motorizado individual torna-se a saída mais
fácil e rápida. Saída essa que, além ser nociva ao meio ambiente por causar
paulatinamente maior degradação da qualidade do ar e contribuir para o aquecimento
global, ainda compromete a qualidade de vida, devido ao aumento significativo
nos níveis de ruídos, perda de tempo, degradação do espaço público, acidentes e
stress. [6]
Foto: Espaço ocupado no tráfego. Fonte |
Nos
últimos dez anos, o uso da bicicleta vem crescendo e sendo incentivado,
inclusive por políticas públicas, que passaram a planejar a malha viária urbana
com ciclovias integrando pontos importantes da cidade. Algumas cidades
europeias já implantaram um sistema de mobilidade que privilegia espaços para
pedestres e ciclistas nas ruas. Países do norte da Europa, como a Dinamarca e a
Holanda, apresentam altos níveis de utilização da bicicleta como meio de
transporte. Na China, a bicicleta é o principal meio de transporte, sendo
responsável por 40% dos deslocamentos urbanos. Já nos Estados Unidos, onde a
dispersão do espaço urbano exige o uso de veículos automotores, menos de 1% dos
deslocamentos são realizados de bicicleta.
Fica
evidente que o grande desafio das cidades dos tempos atuais está em redesenhar
a vida cotidiana na busca de novas maneiras de viver na coletividade, ao mesmo
tempo respeitando processos naturais do ambiente e buscando formas mais
sustentáveis no uso do espaço comum, transformando as cidades em espaços de
convivialidade com qualidade de vida.
Saiba mais:
Link do documentário sobre a urbanização da cidade de São Paulo:
Referências:
[1] ONU. Relatório 2008. http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/dyb/dyb2008.htm
Acesso em 8 dez. 2015.
[2] UN-HABITAT. United Nations Human Settlements Programme. A Practical Guide to Designing, Planning,
and Executing Citywide Slum Upgrading Programmes 2014. Disponível em:
http://unhabitat.org/books/a-practical-guide-to-designing-planning-and-executing-citywide-slum-upgrading-programmes/ Acesso em 8 dez. 2015.
http://unhabitat.org/books/a-practical-guide-to-designing-planning-and-executing-citywide-slum-upgrading-programmes/ Acesso em 8 dez. 2015.
[3] UNODC. United Nations Office
on Drugs and Crime. Annual Report 2014. Disponível em: http://www.unodc.org/documents/AnnualReport2014/Annual_Report_2014_WEB.pdf Acesso em 8
dez. 2015.
[4] JACOBS, Jane. Morte e vida
de grandes cidades. Martins Fontes, São Paulo; 1ª edição, 2000.
[5] Sotomayor, L. Medellín: The New Celebrity?
Spatial Planning in Latin America [online], August 26. 2013. Disponível em: https://planninglatinamerica.wordpress.com/2013/08/26/medellin-the-new-celebrity/ Acesso em 8 dez. 2015.
[6] BRASIL. Ministério das Cidades. Programa brasileiro de
mobilidade por bicicleta, SeMob. 2007. Disponível em: http://www.mma.gov.br . Acesso em 8 dez. 2015.
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